Escolhido pelo Peru para concorrer a uma vaga ao Oscar de melhor filme estrangeiro, “Retablo” (Retablo) é um daqueles longas que, quando você menos espera, te dá uma rasteira matadora e fica ecoando na sua cabeça dias e dias após sua exibição.
Escrito e dirigido por Álvaro Delgado-Aparicio, sua trama gira em torno da relação entre Noé, um renomado maestro de retablos – caixas portáteis e artesanais que retratam eventos religiosos, cotidianos ou históricos – e seu filho de 14 anos, Segundo – que estuda para se tornar o próximo artesão da tradição familiar.
Com um certo ar documental, a correlação retratada entre eles representa de maneira maçônica o que significa viver a mais de 10.000 pés acima do nível do mar nos Andes rurais e extremamente pobres do Peru.
Assim, alicerçados em um roteiro primoroso, nos somos embebidos nesse universo “distante”, onde nos deparamos com uma realidade que parece estar congelada no tempo, mas que acaba abrindo nossos olhos com um cruzado de direita em questões muito presentes na nossa sociedade hoje em dia.
Contudo, a grande força motora que norteia todo essa narrativa vem do olhar precoce do jovem Segundo diante da figura paterna que sempre idolatrou, mas que, diante de uma descoberta inesperada, o faz enfrentar questões morais que o obriga a bater de frente com sua família, seus amigos e as definições de valores que o cerca.
De maneira primorosa, triste e comovente, “Retablo” é uma jóia cinematográfica rara, que merece ser visto e revisto sem pudor. Uma ode ao perdão, o amor e a tolerância.