“Retablo”: Uma Jóia Rara

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Escolhido pelo Peru para concorrer a uma vaga ao Oscar de melhor filme estrangeiro, “Retablo” (Retablo) é um daqueles longas que, quando você menos espera, te dá uma rasteira matadora e fica ecoando na sua cabeça dias e dias após sua exibição.

Escrito e dirigido por Álvaro Delgado-Aparicio, sua trama gira em torno da relação entre Noé, um renomado maestro de retablos – caixas portáteis e artesanais que retratam eventos religiosos, cotidianos ou históricos – e seu filho de 14 anos, Segundo – que estuda para se tornar o próximo artesão da tradição familiar.

Com um certo ar documental, a correlação retratada entre eles representa de maneira maçônica o que significa viver a mais de 10.000 pés acima do nível do mar nos Andes rurais e extremamente pobres do Peru.

Assim, alicerçados em um roteiro primoroso, nos somos embebidos nesse universo “distante”, onde nos deparamos com uma realidade que parece estar congelada no tempo, mas que acaba abrindo nossos olhos com um cruzado de direita em questões muito presentes na nossa sociedade hoje em dia.

Contudo, a grande força motora que norteia todo essa narrativa vem do olhar precoce do jovem Segundo diante da figura paterna que sempre idolatrou, mas que, diante de uma descoberta inesperada, o faz enfrentar questões morais que o obriga a bater de frente com sua família, seus amigos e as definições de valores que o cerca.

De maneira primorosa, triste e comovente, “Retablo” é uma jóia cinematográfica rara, que merece ser visto e revisto sem pudor. Uma ode ao perdão, o amor e a tolerância.

“Coringa”: simplesmente avassalador

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Conhecido por seus filmes de comédia, principalmente a trilogia “Se Beber, Não Case!”, Todd Phillips me parecia uma escolha totalmente incoerente para dirigir uma história tão peculiar, obscura e intensa quanto a do jovem Arthur Fleck, um homem à margem do mundo real, cujo a insanidade é sua única força motora para sobreviver na sociedade. Mas, como todo disco tem seu lado B, e muitas vezes é lá que o grande hit se encontra, Phillips tirou onda. Mas, muita onda.

Com “Coringa” (Joker), Todd estremeceu o universo cinematográfico ganhando, nada mais, nada menos, que o “Leão de Ouro” no conceituado Festival de Veneza, sendo catapultado para os holofotes mundiais como um dos melhores diretores da atualidade, passando de apenas mais um queridinho da indústria para o status de referência obrigatória para todo cineasta que se preze.

Com referências explicitas, tanto de roteiro quanto de estética, de três filmes clássicos do lendário Martin Scorsese –  “Taxi Driver”, “Touro Indomável”, “O Rei da Comédia”, assim como do “Batman – Cavaleiro das Trevas”, de Christopher Nolan, o longa é embebido por um apuro técnico sensacional, com destaque para a fotografia e trilha sonora excelentes, além de uma recriação de época primorosa.

Agora, o grande super trunfo, a cereja do bolo é, sem dúvida nenhuma, a performance avassaladora de Joaquin Phoenix. Seu olhar, os trejeitos minuciosos e seu minimalismo, são de um impacto sem igual na tela do cinema. Mesmo já tendo demonstrado talento de sobra em muitos filmes – sendo indicado três vezes ao Oscar (“Gladiador”, “Johnny & June”, “O Mestre”) –, com essa sua primeira incursão no universo dos quadrinhos, Phoenix concebe uma das interpretações mais marcantes de toda história do cinema. Seu coringa só não chega ser algo sem igual, pois o saudoso Heath Ledger já havia garantido seu trono nessa categoria, ganhando um Oscar de melhor ator pelo mesmo personagem– infelizmente póstumo- com uma interpretação fabulosa.

Porém, para elevar ainda mais a áurea de Joaquim, o filme também conta com a presença marcante de Robert De Niro, interpretando brilhantemente Murray Franklin, um apresentador de programa de entrevistas na TV, figura essa que é idolatrada por Arthur Fleck, o futuro “palhaço do mal”. O embate entre dois em cena é de arrepiar.

“Coringa”, apesar de ser um filme forte e denso, com direito à algumas cenas violentas sim – nada diferente do que já estamos acostumados a ver na telona -, é um recorte psicológico da loucura do mundo, onde um ser humano que está querendo realizar seu sonho de ficar famoso fazendo as pessoas rirem, na verdade está em busca de uma identidade que ele nunca teve. Todavia, por engano, ou não, acaba se tornando um símbolo de anarquia e revolta que a população insatisfeita precisava como impulso para resolver na marra as indignações contra o sistema autoritário.

Muito Obrigado Todd e Joaquin. Lá em cima, com certeza, Ledger os aplaude de pé.

“AD ASTRA – Rumo às Estrelas”: Pitt e Gray numa comunhão primorosa

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Confesso que fui com uma certa apreensão assistir AD ASTRA. Mesmo tendo gostado muito do trailer, ou talvez até por isso, resolvi ir assisti-lo com as expectativas no modo neutro. Com certo receio de ser mais um daqueles filmes pipoca onde astronautas viajam ao espaço em busca de outros seres vivos, ao mesmo tempo que tentam encontrar um sentido para sua própria existência, acabei me deparando com linda história dramática, onde o fator humano é a mola mestra que pulsa em toda narrativa, sem deixar espaço para os termos “piegas” e “lugar comum”.

Com pinceladas de mestre, James Gray (“Os Donos da Noite”, “Amantes”) dá uma aula de direção e delicadeza ao dar vida a um roteiro de sua autoria, em parceria com Ethan Gross, em que narra a busca do astronauta Roy McBride (Brad Pitt) por seu pai (Tommy Lee Jones) que, 30 anos atrás, sumiu durante uma missão espacial.

Mais do que apenas um filme de ficção científica que aborda questões como o avanço da tecnologia espacial e suas conquistas, a narrativa é focada num drama psicológico – com pitadas de Terrence Malick- onde o protagonista vai cutucando suas feridas pessoais conforme é pressionado por seus superiores e por si mesmo, sem ter muito tempo de assimila-las a contento (Harrison Ford e seu Deckard fazendo escola).

Pelo primoroso olhar do fotógrafo suíço Hoyte Van Hoytema, que já nos havia presenteado com a sensacional fotografia espacial de “Interstellar”, do Christopher Nolan, somos agraciados com lindas imagens, com destaque para os ângulos certeiros que elevam detalhes da interpretação minimalista fenomenal de Pitt em um dos melhores papéis da sua carreira.

Brad é um parágrafo à parte. As nuances que ele dá ao seu personagem na sua metafórica viagem à sua alma, as vezes nem tão abstrata assim, mostra uma maturidade artística indiscutível que o coloca de vez no patamar de atores como Brando, De Niro, Pacino e Steiger.

Usando como pano de fundo o espaço, Gray nos dá um tapa na cara com luva de pelica nos fazendo pensar sobre nosso legado como seres humanos, nossas vulnerabilidades e conexões uns com os outros, diante da busca que fazemos dentro de nós atrás de respostas que nem sempre são tão fáceis de digerir.

“Era Uma Vez em…Hollywood”: Muito barulho por quase nada.

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Bem diferente de Tarantino, resolvi ir direto ao ponto.

Seu tão aguardado “Era Uma Vez em…Hollywood” (Once Upon a Time in…Hollywood) tinha tudo pra nos brindar com uma jóia, mas acaba sendo uma embromação tamanha, típica de alguém com ego muito inflado, cercado de rêmoras que alimentam ainda mais essa chama, que acreditar possuir o toque de mídas para transformar em filme um rascunho de roteiro muito aquém de sua originalidade de outrora.

Não, o longa não é uma bomba, mas seu trailer capcioso e a obsessiva estratégia de marketing que acompanha seu lançamento, capitaneada pelo próprio Quentin e seus dois super astros, Leonardo Di Caprio e Brad Pitt, acaba virando um tiro pela culatra. Tamanha expectativa que acaba gerando que, no fim das contas, nos deparamos com um kinder ovo sem surpresa.

Sim, a premissa da história de um ator de televisão em decadência (Di Caprio) e seu dublê (Pitt), que fazem de tudo para entrar no métier da indústria cinematográfica dos grandes filmes de Hollywood na década de 60, no intuito alcançarem fama e sucesso, é muito bacana. Porém, a maneira como a narrativa é conduzida de forma lenta durante quase toda a trama, vide cenas longas que poderiam ser perfeitamente excluídas que não fariam falta nenhuma, ou muitas que poderiam ter recebido uma lapidada mais radical no corte final, nos obriga a trocar a empolgação inicial por uma dose excessiva de marasmo.

Uma grande pena, pois Di Caprio e Pitt contracenando são de um primor sem igual – e vale salientar que nesses momentos Brad consegue colocar, sem esforço algum, todos os holofotes em sua direção-. Sorry, Leo!

Assim, mesmo com todos os atores dando seu recado com perfeição, e o trabalho de fotografia e direção de arte serem impecáveis, Tarantino acaba guiando seu barco de maneira superficial e insossa, se apoiando nos seus dois marujos estelares, sem medo de afundar.

Mas, com certeza, depois da áurea que ele conseguiu criar em cima de si- com louvor, apesar de alguns escorregões- serão poucas as pessoas que terão coragem de dizer que “o novo casaco do imperador” não lhe caiu muito bem.

“Minha Obra Prima”: bom, mas nem tanto

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Em 2016, o diretor argentino Gastón Duprat, junto com seu conterrâneo Mariano Cohn, nos brindou com “Cidadão Ilustre”, um filmaço com roteiro primoroso, adocicado com direção e atuações impecáveis. Assim, ao ver que um novo filme de Duprat estava para chegar ao cinema – dessa vez assinando a direção sozinho-, não tinha como não ficar ansioso e cheio de expectativas. Porém, ignorando a máxima das máximas de não jogar todas as fichas numa única aposta, fui com tudo assistir “Minha Obra Prima” (Mi Obra Maestra) e sai de lá com uma mão na frente e outra atrás.

Longe de ser algo parecido com seu título, o filme tem um princípio de trama até bem interessante, com dois protagonistas excelentes (Luis Brandoni e Guillermo Francella) interpretando um pintor decadente e revoltado com a vida e o dono de galeria bonachão que faz de tudo para ajudar o amigo em vão. Os minutos iniciais que começa nos levando para dentro dessa história que aparenta tudo que vai ser bacana, acaba perdendo seu encanto rapidamente num desenrolar chato, sem graça, com uma reviravolta nada original, que mais parece um kinder ovo sem surpresa.

Infelizmente, mesmo com uma direção precisa de Duprat e atuações excelentes de Brandoni e Francella, esse filme com recheio típico argentino não levanta voo em território brasileiro.

 

“A Mula”: Eastwood primoroso

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Depois de uma tremenda pisada na bola com o péssimo filme “15h17: Trem para Paris” (The 15:17 to Paris), Clint Eastwood volta com mais uma história baseada em um acontecimento real, só que dessa vez acerta um gol de placa em dose dupla.

Em “ A Mula” (The Mule), Clint, além de dirigir o filme com precisão de outrora, dá vida ao protagonista, o horticultor Earl Stone. Veterano da guerra da Coreia, Earl sempre passou a vida cultivando plantas e as vendendo em feiras pelo interior. Porém, com 24 horas do seu dia focado única e exclusivamente para o seu ofício, acabou deixando de lado sua esposa e sua filha. Agora, com 90 anos de idade e o avanço do mundo digital, realidade essa que ele sempre recusou a aceitar, seu negócio acaba falindo. Sem ter o que fazer, acaba aceitando um serviço de levar umas malas de uma cidade para outra, sem saber seu conteúdo, sendo muito bem pago por isso. Com os pedidos se tornando frequente e, rapidamente, conseguindo se reerguer financeiramente, ele acaba se vendo metido numa roubada com um cartel de drogas mexicano, ao mesmo tempo que tenta recuperar o tempo perdido com sua família.

Sem muita ação, mas com um profundo raio x do comportamento humano, a narrativa vai conduzindo o espectador com muita leveza e um delicioso senso de humor, com tiradas na medida para Clint e sua carismática persona.

Com um elenco que ainda inclui Bradley Cooper, como o policial que tem como objetivo descobrir quem é a famosa “mula”; Michael Peña, como seu parceiro; Lawrence Fishburne, seu chefe de policia um tanto durão; e Andy Garcia, como o traficante bonachão; o filme é um deleite. Uma tremenda oportunidade para se divertir e ver mais uma vez em ação de forma primorosa essa figura icônica do cinema mundial chamada Clint Eastwood.

ENTREVISTA EXCLUSIVA (VÍDEO): Produtor Rodrigo Teixeira

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ENTREVISTA exclusiva com o grande produtor de cinema Rodrigo Teixeira (” B1″,” Call Me By Your Name”, “O Filho Eterno”, “Indignação”, “Ciganos de Ciambra”, entre outros), onde fala sobre sua profissão, escolhas, gostos pessoais, vida cigana, obstinação, documentários e o que podemos aguardar com o novo governo com relação a produção audio visual brasileira.

“Bohemian Rhapsody”: SENSACIONAL!

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Vamos direto ao ponto. Rami Malek não apenas interpreta, ele é. Os trejeitos, o andar, a voz e a alma rock and roll de Freddie Mercury, morto por complicações da AIDS em 1991, ressurgem através de Malek de maneira eletrizante em “ Bohemian Rhapsody”, a cinebiografia do lendário vocalista do Queen.

Dirigido quase em sua totalidade por Bryan Singer (“Os Suspeitos”, “X-Men”) – que foi substituído por Dexter Fletcher faltando pouco para terminar as filmagens devido a divergências com a produção e, principalmente, com Rami-, o filme narra a história do jovem carregador de malas no aeroporto de Hathrow (Londres), Farrokh Bulsara, até sua sagaz entrada no meio musical fundando com Brian May, Roger Taylor e John Deacon uma das bandas mais consagradas de todos os tempos.

Misturando drama com pitadas certeiras de humor, as quase duas horas e vinte de duração do filme ressaltam momentos importantes da vida de Mercury como sua primeira paixão, os primeiros discos e as criações de clássicos do grupo, o descobrimento de atração pelo sexo masculino, os conflitos com o pai – que queria que ele tivesse um emprego de verdade e se levasse a sério-, até o estouro da banda que o deixou mais egóico do que nunca, culminando na descoberta de ser portador do vírus HIV.

Com alicerces calcados numa trilha sonora fenomenal, a direção de Singer pinta e borda com maestria, deixando a montagem do consagrado John Ottman mais primorosa do que nunca, formando um picadeiro perfeito para a estrela da vez se consagrar.

Essa estrela, sem dúvida nenhuma, se chama Rami Malek (“Mr. Robot”). Sua performance avassaladora de Freddie é tão hipnótica que, muitas vezes, parece estarmos assistindo imagens nunca antes vistas do verdadeiro Mercury. É ver pra crer – vale ressaltar que seus companheiros de banda também estão sublimemente representados.

Mesmo com pequenas furadas, digamos assim, licenças poéticas- como, por exemplo, ao destacarem a performance de “Love of My Life” do Queen no Rock In Rio, só que com o festival acontecendo no final da década de 70 -, nos embarcamos na viagem musical de Freddie com sorriso largo no rosto até o final apoteótico, que nos faz arrepiar da cabeça aos pés, deixando muitos olhos marejados e muitos suspiro de felicidade e muita saudade no ar.

“O Primeiro Homem”: um grande acerto

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Com apenas 33 anos e dois excelentes filmes no currículo – “Whiplash” e “ La La Land”, ambos escritos e dirigidos por ele-, Damien Chazelle conseguiu carimbar seu nome no hall da fama do Oscar ao ser o mais jovem diretor a receber a estatueta dourada, elevando assim sua moral para decidir com muita liberdade os próximos projetos, tendo sempre na cabeça algo que o instiga a se superar cada vez mais: desafios.

Numa decisão um tanto radical, além de ir numa direção completamente diferente da seara musical, Damien resolveu apostar suas fichas em um roteiro não autoral, baseado numa história real, onde seu maior obstáculo seria recriar situações bastante conhecidas do povo americano, envolvendo um dos seus maiores heróis em se tratando de demonstração de poder, culminando num dos maiores feitos que seu pais conseguiu realizar: a “conquista” da lua.

Em “O Primeiro Homem” (First Man), a trama narra a história de vida do lendário astronauta Neil Armstrong (Ryan Gosling) até chegar na sua famosa missão espacial que o levou a se tornar o primeiro homem a pisar na lua, no dia 20 de Julho de 1969.

Repetindo novamente uma dobradinha de sucesso, a direção primorosa de Chazelle rege com muita precisão e delicadeza seu querido amigo, e excelente ator, Ryan Gosling, numa tensa jornada de um homem aficionado por sua profissão, o qual faz de tudo para alcançar seus objetivos – até mesmo se distanciar de sua esposa (Claire Foy numa interpretação incrível) e filhos-, e como isso vai, pouco a pouco, o colocando no limiar da sua sanidade física e mental.

E para ressaltar ainda mais esse universo conturbado no qual vivia Neil, vale ressaltar a primorosa fotografia e direção de arte que ajuda nos envolver por completo na atmosfera dos anos 60, ambiente esse que transitamos junto com o personagem, seja em momentos claustrofóbicos como nas viagens espaciais, quanto aqueles mais humanamente transitáveis, onde nosso herói se permiti sonhar.

No fim das contas, acima de tudo,  esse filme enfatiza o quanto a humanidade alcançou num curto espaço de tempo em que existimos e o quanto ainda estar por vir e será necessário fazer.

Damien Chazelle, missão cumprida.

“Nasce uma Estrela”: quase lá.

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Depois de três adaptações para o cinema (em 1937 com Janet Gaynor e Fredrich March; em 1954 com Judy Garland e James Mason; e em 1976 com Barbra Streissand e Kris Kristofferson), a conturbada história de um músico famoso que ajuda uma jovem desconhecida a chegar ao estrelato, ao mesmo tempo que ele mesmo se afunda na carreira e na vida, ganha uma nova versão, estrelada e capitaneada pelas mãos do galã Bradley Cooper.

Com uma arriscada dupla função nas mãos, Cooper tenta fazer desse novo remake de “Nasce Uma Estrela” (A Star Is Born) um veículo não apenas para mostrar seu talento – que sem dúvida ele tem-, mas catapultar na esfera imagética a faceta atriz da musa pop Lady Gaga.

Tendo como referência principal o seu antecessor que, apesar de ser um longa ruim – muito por culpa do ego megalômano de Streisand-, acabou virando cult, essa empreitada de Bradley tem como grande destaque a química mais que perfeita entre ele e Gaga – justamente o que Barbra e Kristofferson não mostraram na telona.

Na trama, Jackson Maine (Bradley Cooper) é uma estrela do rock que sempre viveu entretendo multidões com seus discos e shows lotados, tendo como melhores amigos o alcool e drogas. Jackson é um homem que tem muitos demônios pessoais, já que sua tensão familiar mal resolvida o irmão Bobby (o grande Sam Elliott) pesa para os dois. As coisas mudam quando Ally (Lady Gaga) arrebata seu ouvido e seu coração. Porém,
quando ela se torna famosa e bem conhecida,  a música e a vida pessoal de Jackson tomam um caminho descendente com o alcoolismo e a depressão.

Com um roteiro bacana, os dois primeiros terços da trama nos conduzem tranquilamente pela história, nos envolvendo com os dramas dos personagens. Porém, no terceiro a coisa desanda. Além da sensação animada de outrora dar um repentino lugar ao cansaço – vide encheção de linguiça -, Cooper parece se deixar levar por um lado egóico ao se ver no monitor sob seu próprio comando que, sem pudor, acaba sendo um tanto auto – indulgente com suas cenas. Uma pena.

Nos resta assim buscar um certo fôlego com a incrível Gaga que, além de nos brindar com números lindos onde mostra seu perfeito domínio de voz ao cantar, defende com maestria e muita paixão o lado dramático de sua personagem, se consagrando com uma interpretação de dar inveja a muita atriz graduada.